terça-feira, 14 de abril de 2009

Mulher e Trabalho


Ouve-se muito falar sobre a "emancipação" da mulher, que a mulher está cada vez mais ocupando seu espaço no mercado de trabalho, que a estrutura da sociedade pós-moderna se difere bastante daquela do século XIX - em que as mulheres não trabalhavam e viviam apenas para cuidar do lar, dos filhos e do marido. No entanto, precisamos saber que mulher do século XIX é essa, que não saia de casa, senão acompanhada de um outro homem e que assumia apenas o papel de rainha do lar.

Alguns estudos históricos, aqui na Bahia, mostram que no final do século XIX e início do século XX, uma grande parcela da população feminina trabalhava fora de casa, sendo sua maioria negras, mestiças e brancas empobrecidas. Muitas delas eram viúvas e mães solteiras que precisavam trabalhar para sobreviver. Ou seja, as "rainhas do lar" eram apenas mulheres que não precisavam trabalhar para sobreviver, que dependiam do marido e tinham boa condição financeira.

Nessa época, o cotidiano de mulheres e homens foi marcado por condições precárias no trabalho, numa sociedade estagnada em suas tradições coloniais, na qual, negros, mestiços e mulheres de uma forma geral ficavam na base da hierarquia social. Salvador possuía poucas fábricas “fundo de quintal”, que usava bastante mão-de-obra feminina, pois os salários pagos eram inferiores aos dos homens. Assim podemos notar alguns resquícios do passado, pois ainda hoje os salários pagos às mulheres são inferiores aos salários dos homens que possuem o mesmo cargo.

Tinha também os trabalhos de bordadeiras, chapeleiras, costureiras, capelistas, floristas, modistas e rendeiras que eram produzidos em casa ou nas casas dos patrões e vendidos para lojas e armarinhos. Esse artesanato doméstico foi importante porque as mulheres podiam, ao mesmo tempo, trabalhar e cuidar da família e do lar, ainda evitava “sujar” a reputação, uma vez que trabalhar fora de casa era considerado indigno.

Muitas mulheres contribuíram para a economia da Bahia num comércio fixo ou ambulante. Eram as ganhadeiras, vendedoras de rua que além de enfrentar o trabalho cansativo tinham de pagar taxas de impostos. Era um trabalho pouco valorizado e de baixa renda, salvo em épocas de festas cívicas e dias de santos que o comércio crescia muito. Essa atividade existe muito fortemente em nossa sociedade, uma vez que o desemprego toma conta do nosso país, estimulando o comércio ambulante e informal.

Mas a maior oportunidade de emprego para essas mulheres do século XIX-XX era o serviço doméstico. Considerando uma hierarquia entre os trabalhos, esse estava no mais baixo nível, pois era o que mais evocava o trabalho escravo. E aí está mais uma herança da nossa sociedade escravista: o preconceito com os trabalhos que eram ocupados por negras escravas. Continua no imaginário social a idéia de trabalho doméstico associado a indignidade e o mais interessante é percebermos que depois de séculos as relações de trabalho das domésticas e seus patrões se perpetuam. O paternalismo continua impregnado e a troca de favores orientam as relações empregada/patrão para uma camuflada harmonia em família. Eram assim, as arrumadeiras, as amas-de-leite e as catarinas, que geralmente residiam na casa dos patrões e viviam sob vínculo de poder e afetividade. Ao contrário delas as lavadeiras, gomadeiras e faxineiras administravam suas atividades com autonomia em diversas casas sem precisar viver com os patrões.



por Vilane Vilas Boas Rios


Se quiserem saber mais: FERREIRA FILHO, Alberto Heráclito. “Trabalho feminino no espaço urbano.” In. Quem pariu e bateu que balance! mundos femininos, maternidade e pobreza: Salvador 1890-1940. Salvador: EDUFBA; CEB, 2003. p. 31- 62

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